Um Desabafo
Por Calleby Sousa
Primeiramente, peço desculpas pelo título, “Um Desabafo ”, mas foi o único que consegui pensar.
Este Artigo pode conter gatilhos. Bom, vamos ao texto.
Cresci toda a minha vida lutando contra a depressão; não me lembro de um dia em que não tenha sofrido desse mal. As imagens que tenho da minha infância são da minha mãe me levando, em meio ao choro, para o hospital, enquanto meu pai acelerava o carro. Quando chegávamos, as enfermeiras logo diziam: “Isso é ansiedade”. E, de fato, elas estavam certas.
Mas esse não foi o início do meu sofrimento. Tive convulsões até os sete anos de idade e enfrentei complicações no meu nascimento. Para os médicos, eu não sobreviveria. Minha mãe sempre me contou sobre a promessa que fez a Deus: se Ele salvasse a minha vida, ela me criaria em Seus caminhos. Na escola, lembro-me dos diretores me levando às pressas para o hospital em mais uma crise de ansiedade.
Posso dizer que vivi com esse “monstro” todos os dias da minha vida, desde a infância até os dias de hoje. Ainda que certos grupos modernos de cristãos alegam que o sofrimento causado por doenças mentais é apenas uma invenção humana, posso afirmar o contrário. Sofri, chorei — e eu era apenas uma criança. O que você faria ao ver uma criança com respiração rápida, coração acelerado, mãos e pés gelados e pálidos? Lembro-me do meu tio segurando minha mão durante uma dessas minhas crises.
Cresci no campo missionário, pois sou filho de missionários. Passei por muitas cidades vendo o Evangelho ser pregado. Sempre falei com Deus, desde criança. Amava ler as histórias de Israel na minha Bíblia ilustrada (NTLH). Nunca questionei a Deus sobre o motivo de tanto sofrimento para uma criança.
Na adolescência, resolvi buscar alegria fora da igreja. Mas não encontrei lá a solução para minhas dores.
Certa vez, vivi uma experiência muito marcante. Minha família e eu morávamos em uma casa muito pequena, com apenas um quarto para cinco pessoas. Alguns dormiam em colchões no chão. Até que uma pessoa muito famosa soube da minha história e me ajudou, doando-nos uma casa! Fiquei feliz e glorifiquei a Deus, mas, ainda assim, não tinha me arrependido dos meus pecados.
Tive a oportunidade de trabalhar na empresa dos meus sonhos, o sonho de muitos. Mas a depressão e a ansiedade, que me perseguem desde o meu nascimento, me impediram de continuar. Afundei em um estado de desespero, sem ver sentido na vida. Busquei consolo em festas, mas tudo só piorava.
Até que, um dia, assisti a um vídeo no TikTok de uma jovem pastora (obs.: não acredito na ordenação feminina), que chorava ao falar sobre sua luta contra a depressão. Ela dizia que não via motivo algum para viver, além de Cristo. Essas palavras me atingiram profundamente. Naquele momento, desejei ter a mesma esperança daquela jovem.
Entrei no meu quarto com a Bíblia e disse a Deus que não tinha nada a Lhe oferecer, a não ser meu coração — um coração cheio de pecados e falhas. Mas eu queria ter a mesma certeza que aquela jovem tinha.
Naquele momento, senti que encontrei um motivo para viver. Fiquei feliz, renovado! Voltei a frequentar a escola, que havia abandonado. Passei a abordar pessoas na escola e no ponto de ônibus para falar do Evangelho. Talvez alguém pense: “Agora, sim, ele venceu a depressão!”. Mas a resposta é não. Luto diariamente contra ela. Sinto que meu próprio corpo se tornou meu pior inimigo.
Frequentemente, Eclesiastes 7 e Salmos 102: 1 a 12 tem sido minha companhia na caminhada, ajudando-me a seguir em frente.
Foi durante esse período de conversão que comecei a frequentar uma igreja batista. Lá, ouvi pela primeira vez a música Que Ele Cresça. Eu dizia a Deus que um dia faria um projeto para a glória d’Ele com esse nome.
O tempo passou, e mesmo com a depressão me assombrando, continuei servindo minha igreja local. Deus mostrou aos meus irmãos que havia em mim um chamado para o ministério pastoral. Entrei no Seminário Batista do Nordeste e cheguei a dirigir uma congregação. Muitas vezes, dirigi para os cultos com lágrimas escorrendo pelo rosto. Houve momentos em que pilotava a moto pela BR e, no meio da estrada, era tomado pela angústia das crises de ansiedade.
No entanto, deixei o Seminário Batista do Nordeste e minha antiga igreja. Hoje, sou membro de uma igreja presbiteriana. Não sei se meu sonho de ser pastor será realizado ou se foi para isso que Deus me chamou, mas fico feliz em ver que, em meio ao meu sofrimento, o movimento Que Ele Cresça está crescendo e busca pregar fielmente o Evangelho das Escrituras.
Não sei se meus sonhos de ter uma família e ser pai — ensinando meus filhos sobre o Evangelho de Jesus Cristo — serão realizados devido às minhas limitações. Mas sei que Deus é grande e poderoso. Recentemente, fui diagnosticado com autismo, o que explica muito do meu sofrimento desde a infância.
Ainda assim, mesmo que meus sonhos não se realizem, continuarei glorificando ao Senhor até o último dia da minha vida. Trabalharei arduamente — mesmo sob o efeito dos medicamentos — para que o movimento Que Ele Cresça siga firme e forte. Pois aquilo que falei a Deus no início da minha conversão, o meu sonho de formar um movimento com esse nome, se concretizará.
Porque não me importo com a minha vida; me importo com o Reino de Deus. Pode parecer radical, mas esse foi o sentido que encontrei para viver — mesmo que tenha um preço alto.
O que importa é que Ele cresça, e eu diminua. Que Ele apareça, e eu me constranja com Sua glória, Seu infinito amor e Sua humildade. Que eu sirva aos irmãos.
Por fim, faço das palavras de Paulo as minhas:
“Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, desde que eu termine a corrida e complete o ministério que o Senhor Jesus me confiou: testemunhar do evangelho da graça de Deus.”
(Atos 20:24)
Essa é minha história resumida. Espero um dia explicar melhor os detalhes para vocês. Que Deus, em Sua maravilhosa graça, os abençoe.
Soli Deo Gloria!